Gráfico Nikkei 225: 1989 - 2025

Fonte: TradingView. Todos os índices são retornos totais em dólares americanos. Desempenho passado não é indicativo de desempenho futuro. Dados em 1º de julho de 2025.
O que é engraçado? Durante a maior parte dos últimos 30 anos, ninguém realmente falava sobre as ações japonesas, a menos que fosse para fazer referência àquela bolha enorme dos anos 1980. Desde então, o Nikkei na maioria das vezes ficou à deriva – alguns anos positivos, mais anos negativos, e uma sensação geral de que o mercado estava... preso.
Mas agora? Algo mudou. No início de 2025, o Nikkei 225 cruzou silenciosamente os 40.000 pontos. É um número, claro, mas um número que carrega um peso. Esse foi o pico infame de 1989, um símbolo de excessos e colapso. Então, quando o índice finalmente ultrapassou isso, as pessoas começaram a prestar atenção – não apenas pelo título, mas porque desta vez, o mercado parece ter um combustível real por trás disso.
O Efeito do Yen: Vento a Favor ou Miragem?
Você não precisa procurar muito para encontrar uma das maiores razões para a alta do mercado japonês – é a moeda. O yen caiu drasticamente. No início de 2025, o yen estava perto de 160 para o dólar, um nível que os traders não viam desde os anos 90. Isso é uma má notícia se você é uma família japonesa comprando alimentos importados ou eletrônicos. Mas para os exportadores? É uma grande vantagem.

Fonte: TradingView. Todos os índices são retornos totais em dólares americanos. Desempenho passado não é indicativo de desempenho futuro. Dados em 1º de julho de 2025.
Vamos pegar a Toyota, por exemplo. A empresa vende carros em todo o mundo, mas registra uma grande parte de sua receita em yen. Então, quando a moeda enfraquece, essas receitas externas disparam. Os números mais recentes da Toyota mostraram um aumento de 78% no lucro operacional – nem tudo isso é impulsionado pela moeda, mas com certeza ajudou. Seu retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) subiu para cerca de 12%, de 9% há apenas alguns anos. Isso é uma mudança significativa, especialmente para uma empresa que costuma ser bastante conservadora com o capital.
Mais do que Moeda: Uma Revolução Corporativa Silenciosa
Todos estão falando sobre o yen, mas sinceramente, a história mais interessante pode ser o que está acontecendo dentro das salas de reunião das empresas japonesas. É lá que a verdadeira mudança está acontecendo.
A Bolsa de Valores de Tóquio começou a pressionar seriamente as empresas listadas para fazer mais com seu capital – usá-lo de forma mais inteligente, parar de acumular dinheiro e realmente pensar no retorno para os acionistas. Esse tipo de pressão não foi levado a sério no passado, mas recentemente? Está surtindo efeito.
Mais empresas estão recomprando ações, aumentando dividendos e enxugando operações ineficientes que provavelmente deveriam ter sido resolvidas anos atrás. Não é dramático, mas é notável.
Veja a Sony. Ela está se reestruturando gradualmente. A divisão de entretenimento ganhou nova vida, o PlayStation ainda é um monstro, e a empresa aumentou seu dividendo por três anos consecutivos. Ela ainda mantém mais de 20 bilhões de dólares em caixa, o que não é pouco. E mesmo com todas essas mudanças, está negociando a cerca de 22 vezes o lucro futuro – nada exagerado de acordo com os padrões globais.
Depois tem a Fast Retailing – o grupo por trás da Uniqlo. O crescimento no Japão diminuiu um pouco, mas eles estão fazendo grandes progressos no exterior, especialmente no Sudeste Asiático e na Índia. As margens estão melhorando no exterior, e o ROE subiu para mais de 14%. Eles não são chamativos, mas os pagamentos aos acionistas claramente se tornaram uma prioridade.
Adeus, Deflação
Uma mudança menos falada é o retorno da inflação – não muito quente, não muito fria. Durante décadas, o Japão lutou contra a deflação: a queda dos preços que desestimulava tanto consumidores quanto empresas a gastar ou investir. Mas hoje, a inflação base está estável em torno de 2%, o que é saudável para os padrões da maioria dos bancos centrais. Isso permite que as empresas aumentem os preços sem assustar a demanda e contribui para um crescimento mais estável dos lucros.
Avaliação: Um Achado Comparado aos EUA?
As ações japonesas também parecem atraentes do ponto de vista da avaliação. O Nikkei 225 está atualmente sendo negociado a cerca de 15 vezes os lucros futuros, o que é consideravelmente mais barato do que o S&P 500, que está em cerca de 20 vezes. Esse gap chamou a atenção dos fundos globais. O capital está fluindo para ETFs focados no Japão, e as grandes instituições estão agora mais sobreponderando o mercado pela primeira vez em anos.
A decisão de Warren Buffett de aumentar suas participações em várias casas de câmbio japonesas só reforçou a narrativa: o Japão não é mais uma reflexão tardia nos portfólios globais.
Riscos Familiares Ainda Persistem
Nada disso significa que o rally é garantido para durar. O BoJ está lentamente apertando a política, e se os aumentos de taxa vierem muito rápido para estabilizar o yen, as ações podem vacilar. Uma recuperação acentuada da moeda também pode prejudicar os lucros dos exportadores.
O Japão está intimamente ligado à economia chinesa, e qualquer desaceleração adicional lá pode atingir a demanda por bens e serviços japoneses. Além disso, as tensões geopolíticas na Ásia – especialmente em torno de Taiwan – podem afetar o sentimento dos investidores.
Ainda assim, esses riscos não são novos. O que é diferente hoje é o trabalho interno: balanços mais enxutos, melhor disciplina de capital e mais engajamento com os acionistas.
Conclusão Final
O mercado de ações japonês já subiu tão alto antes – apenas para cair depois. Mas desta vez, o rally parece estar enraizado em uma mudança mais profunda. As empresas estão mais fortes, mais transparentes e mais alinhadas com os interesses dos acionistas. A inflação não é mais um obstáculo. E os investidores globais estão notando.
Se isso é o começo de um mercado em alta sustentado ainda está para ser visto. Mas se você tem ignorado o Japão nas últimas décadas, talvez seja hora de olhar novamente para esta região.